sábado, 29 de agosto de 2009

Da Paternidade...

Já há alguns anos eu tenho dentro de mim uma vontade enorme de ser pai. Fui casado por 7 anos, e por 5 anos decidimos que não era o momento; ora por questões financeiras ora por outras prioridades, mas planejávamos um filho como quem agenda uma reunião. Tivemos inclusive a prepotência de escolher o signo do bebê.

Talvez essa insolência com o destino tenha sido a causa pela qual essa gravidez nunca veio, mesmo quando desejamos que viesse.
Meu casamento terminou e essa idéia de ser pai anda tão fixa na minha cabeça que passei a ter um olhar totalmente diferente sobre algumas coisas que dizem respeito a crianças e um carinho anormal por mulheres grávidas. De alguma forma isso parece reagir com o mundo, nesses últimos meses quase toda vez que toco a barriga de uma mulher grávida o bebê chuta.

Comecei a pensar na minha ânsia pela paternidade e que a reação do bebe não necessariamente pode ter sido por uma sensação boa.

Começo a duvidar se estou preparado para ser pai. O destino quis que não acontecesse, e o pai que quero ser exige um homem que eu não sei se sou hoje. A começar pelo fato de estar solteiro e sozinho, quero ser pai de uma criança fruto de um amor forte e verdadeiro, e cada vez mais isso parece mais distante. Esse pai também precisa ser emocionalmente forte e eu me sinto cada vez mais vulnerável.

Li um texto uma vez que dizia que um sábio muito temente a Deus havia subido a montanha com seus seguidores para um retiro. De lá, ele avistou sua vila ser atacada por bárbaros que saqueavam, queimavam a cidade, aprisionavam mulheres e crianças e matavam os homens.
Vendo aquilo o sábio se ajoelha próximo a beira da montanha e em alto e bom som diz que gostaria de ser Deus naquele momento.
Os discípulos, decepcionados, questionam o sábio porque esse sentimento. Como ele pôde blasfemar dessa forma querendo ser Deus para interferir no que acontecia como se afirmasse que Deus estava errado.
O sábio então explica que não queria ser Deus para mudar nada, mas sim para entender o que estava acontecendo.

Tenho fé que ainda serei pai um dia, e um dia eu revisitarei essa reflexão com uma sensação de vitória. Por enquanto, ser Deus já me bastava...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Do Trânsito...

Voltava para casa do trabalho e estava parado no semáforo, respeitando o sinal vermelho. Na minha frente um rapaz em uma moto que não partiu quando o sinal ficou verde. A primeira reação é um leve toque na buzina para fazer o motorista, então distraído, atentar-se ao sinal de trânsito. Mas reparei que ele não olhava pra frente, mas sim nitidamente para uma jovem que passeava com um cachorro na calçada que também olhava pra ele.

Não me importei com o trânsito ou com o tempo, queria ser cúmplice daquela troca de olhares; desejei por um instante que pudesse surgir um amor naquele momento.
Não sei qual era intenção de cada um naquela breve troca de olhares, e poucos segundos levaram até o motoqueiro seguir viagem sem parar para falar com moça que passava, mas foi uma boa sensação de ver que os amores são como as pessoas, a todo momento morre um e nasce outro e assim nunca vamos parar de amar e, mais do que perpetuar a espécie, esse sentimento, eu acredito, que fez nossa raça evoluir.

Mais a frente, o trânsito fica lento em virtude de uma obra que ocupa metade da pista em um determinado trecho do trajeto. Nesse momento os carros reduzem sua velocidade e afileiram-se enquanto eu vejo as motos “costurarem o trânsito”, quase na mesma velocidade porém cada motoqueiro com sua própria manobra. E, enquanto isso, os carros iguais, independente de ano, motor, marca, potência, seguem lentamente pelo único lado da pista liberado. Após este trecho os carros voltam a acelerar e as motos voltam a andar enfileiradas no meio da pista ou próximo ao meio fio.

A forma, a velocidade, o jeito com que temos muitas vezes que ultrapassar por obstáculos da nossa vida depende muito de como conduz seu coração. Se ele tiver que ser carregado na caçamba de uma carreta, carregado de sentimentos, pesado, sua capacidade de manobra diminui muito, não há velocidade, não há desvio, é um longo caminho em velocidade lenta e solitária. Se seu coração estiver conduzindo um carro, sabe que precisa considerar o porte que ele apresenta, pode fazer você ter que reduzir em bloqueios de pista e curvas acentuadas, mas permite a você carregar consigo aquilo o suficiente para seguir viagem; enquanto o coração motoqueiro, leve e ágil desvia com manobras fantásticas e ultrapassa os obstáculos que a vida apresenta.

Assim como no trânsito, o motoqueiro está mais exposto. Ele é o seu próprio para-choque e uma queda pode causar sempre mais estrago. No carro o seu coração tem onde se proteger, em quem contar.

Você pode alcançar o seu destino de qualquer jeito, a forma a velocidade é que serão diferentes. É preciso aceitar que, quando alguém se move muito devagar, é porque essa é sua única maneira de percorrer aquele caminho e, quando valer a pena, reduza sua velocidade, acompanhe-a em caravana, porque tal como é com o caminho acontece com o amor.

sábado, 22 de agosto de 2009

Do Acidente...

Dias destes dirigia tranquilamente para o trabalho, aprendi que a pressa no trânsito, especialmente em uma cidade como Uberlândia, não tem o menor sentido já que a diferença entre percorrer meu trajeto correndo ou não, significa menos de 5 minutos a mais de viagem, e ainda me faz perder a oportunidade de ouvir mais uma música enquanto me preparo para o dia que inicia.

Neste dia, ao fazer a primeira curva logo na saída da minha rua uma caminhonete vinha na contra-mão de forma acelerada e por pouco não houve a colisão.
Só para alinhar as expectativas, não estou aqui pra falar de uma experiência fora do corpo ou medo da morte ou que decidi desde então aproveitar cada segundo, não é por aí. A situação em si e a velocidade que eu estava provavelmente não feriria ninguém, só a dor de cabeça que uma batida de carro pode dar com conserto, polícia, seguro, etc...

Pensei naqueles 15 segundos, talvez menos. Será que os 15 segundos a mais que aquele motorista ganhou ao fazer uma manobra errada e tão arriscada fizeram diferença no dia dele? Os 15 segundos que eu enrolei um pouco mais enquanto ligava o rádio (que poderia ter sido feito com o carro em movimento), mas que naquele dia só dei a partida depois de escolher cuidadosamente uma música no mp3 player, esses 15 segundos me fizeram falta?

Nesse dia senti que vivi menos, transferi para aquela pessoa 15 segundos do meu dia que teve então 23:45, afinal se fizesse o certo teria que ter contornado o quarteirão e ao invés de gastar 30 segundos na manobra levou apenas 5 para chegar a sua rua destino. Espero que ele tenha feito bom uso.

Sei que evitou um acidente, mas comecei a pensar além disso; situações drásticas fazem a gente valorizar o tempo e a forma como lidamos com as coisas, mas a todo momento ganhamos ou perdemos 15 segundos, 30 minutos, 2 horas, dias, semanas, meses ou anos em coisas aparentemente erradas, perigosas, sem razão ou sentido mas que podem determinar em algum momento da vida um fim, um início, um começo, um acontecimento...

Passei a acreditar que certas coisas são parte de um plano que muitas das vezes a gente não entende. Então, da próxima vez que esquecer uma chave, ou sua carteira, ou qualquer outra coisa que faça você voltar e “perder” tempo, pense além daquele sentimento de incompetência (como pude esquecer isso?!), pode ser a maneira do destino dizer que você precisava “ceder” alguns segundos do seu dia.

BlogBlogs.Com.Br