domingo, 6 de setembro de 2009

Do Ouvir...

Recentemente resolvi experimentar o Twitter. É uma das febres da Internet e, como usuário da rede há mais de 15 anos, achei que devia conhecer. Confesso que achei interessante, pessoas lançando pensamentos livres ao acaso na rede, tal como funcionaria um blog, mas com menos compromisso e maior praticidade.

Um dos motivos para o grande sucesso do Twitter é a presença assídua de grandes celebridades e pessoas famosas que fomentam a curiosidade dos fãs e admiradores que querem ver qual a mais nova resposta do seu ídolo para a pergunta padrão do Twitter que é: O que você está fazendo?

Resolvi tentar; não tinha intenção de fazer nada como esse blog nos meus tweets, a idéia era comentar o que estivesse acontecendo no mundo, principalmente futebol, uma maneira de fazer um fórum de discussão entre meus amigos.

No fundo a gente sempre quer que alguém leia o que escrevemos, a gente quer disseminar nossa opinião, é natural do ser humano, é uma forma de ser aceito, respeitado ou admirado (embora este blog mesmo, tenha comentado apenas com 3 pessoas e não faço idéia se mesmo elas acessam ou já acessaram alguma vez, a minha motivação aqui é, de fato, outra). Nenhum dos meus amigos usavam o Twitter e a coisa toda ficava meio sem sentido, escrever o que eu penso para que apenas eu leia. Resolvi usar do Orkut então para procurar seguidores e outros Twitters que achasse interessante e pudesse seguir.

Foi então que reparei em uma coisa no tópico para divulgação da comunidade específica do Twitter; em menos de 1 minuto eram postados mais de 80 divulgações, a maioria dos mesmos usuários com o endereço repetido por dezenas de vezes afim de ocupar mais espaço na tela. Havia ainda, em quase todas, a proposta de “se me seguir eu te sigo na hora, garantido!”

Cheguei a fazer um post sarcástico que provocava dizendo algo do tipo se você for capaz de entender o endereço do meu twitter de primeira, sem que eu tenha que encher a tela, ou postar um monte de vezes a mesma coisa, está convidado. Era algo assim, mas não adiantou nada em menos de 2s meu recado já havia sumido em páginas anteriores e certamente nunca nem foi lido.

Fiquei pensando, a gente está tão preocupado em falar, em ser ouvido, em ser admirado, em ser o centro das atenções que a gente acaba por não ouvir o outro. Quantas vezes você se pegou numa conversa em que você ou estava falando ou pensando no que você ia falar logo assim que o outro acabasse de falar qualquer coisa fosse aquela que ele tivesse falando. Não há centro das atenções. Mesmo que você esteja falando a atenção de quem escuta possivelmente está voltada para a próxima chance que ele terá de falar e vice-versa.

Nós somos cheios dessas incoerências e contradições, porque todos temos as mesmas necessidades emocionais que necessitam do outro para serem atendidas ao tempo que não estamos dispostos a suprir a de mais ninguém.

É claro que não é sempre assim, há dias em que uma possível autoconfiança elevada, uma pré-disposição de relacionar-se com o mundo, uma felicidade com ou sem motivo, nos deixa mais receptivos (que no meu ponto de vista é o contrário, a idéia do estar receptivo é quando na verdade estamos mais generosos, dispostos a oferecer mais que de fato receber, mas isso é só um parêntese), quando isso acontece, a gente consegue de fato ouvir o outro e participar, contribuir, de forma que a conversa, o tweet, o fórum, o blog, evolua para um pensamento de um grupo e assim ganhe força para ser o centro das atenções e não só da sua atenção.

Estou aqui, na confortável posição de quem é lido, de quem nesse momento recebe a sua atenção e se não me ouvir, nada do que penso mudará. Mas se de fato ouvir as palavras que eu escrevo (!?), pode comentar, concordando ou não, e isso pode não mudar meu ponto de vista mas me fará saber que existem outros e, por mais que não seja o seu, posso um dia encontrar um melhor que o meu, ou posso começar a aprimorar o meu baseado em todos os outros. Isso também, se eu conseguir ouvir o seu comentário...

Afinal, foram as diferentes opiniões que, ao longo da história, levaram o homem à descobertas incríveis e à evolução que chegamos hoje. Não foi porque Deus criou os diferentes idiomas que o projeto da Torre de Babel fracassou; imagino, deviam ser pessoas muito inteligentes e determinadas que ousaram construir uma torre até o céu; falhou porque ninguém esteve disposto a ouvir e aprender o que o outro começou a dizer para dar sequência na construção.

Nenhum comentário:

Postar um comentário